Tolerância e Dependência

Tolerância

O uso continuado de codeína leva ao desenvolvimento de tolerância, havendo perda da eficácia do fármaco (Katzung, Masters et al. 2012). Pensa-se que isto seja causado pela ocorrência de degradação metabólica ou por uma reduzida afinidade para os recetores opioides (van Hout, Bergin et al. 2014). Assim, são necessárias doses maiores para garantir a ação da codeína, sendo possível administrar essas doses superiores sem que ocorram certas reações adversas, como depressão respiratória (Hellums and Ross 2017).

De modo a superar a tolerância provocada pelos opioides em geral, a Organização Mundial de Saúde recomenda que a terapia analgésica relacionada com dor crónica seja iniciada com um analgésico não opioide e caso a dor progrida se recorra a um opioide fraco. Eventualmente, só em casos estritamente necessários, um opioide forte é introduzido (Dumas and Pollack 2008).

Dependência

A dependência é outro efeito secundário associado ao uso crónico da codeína, estando associada particularmente aos recetores µ, embora também possa estar relacionada com os recetores δ (van Hout, Bergin et al. 2014). Está descrito que os indivíduos dependentes administram em média 435 a 602 mg de fosfato de codeína por dia (Hellums and Ross 2017).

A interrupção súbita da toma de codeína provoca dores severas e potencialmente síndrome de abstinência. Alguns dos sintomas desta síndrome são miose, febre, sudorese, náuseas, diarreias e vómitos, sendo o seu pico aos 2-3 dias após a ausência de administração e podendo durar cerca de 8-10 dias (Hellums and Ross 2017).

Diversas terapias estão descritas para o tratamento da dependência de codeína, sendo aconselhado um "desmame" lento e gradual. A terapêutica de substituição consiste num desses tratamentos e é feita através da administração de analgésicos não opioides, incluindo amitriptilina e benzodiazepinas, sendo, por vezes, usados outros opioides como buprenorfina e metadona (Foley, Carney et al. 2016).

Para além das medidas farmacológicas é necessário fornecer ao doente um tratamento médico psicológico adequado, promovendo a sua integração em centros de reabilitação, de modo a auxilia-lo a gerir o desejo de consumir a substância através, por exemplo, de técnicas de relaxamento ou de exercício físico. O resguardo da culpa e um apoio social coeso, bem como um plano de prevenção de recaídas são medidas essenciais para um tratamento eficaz (Foley, Carney et al. 2016) (van Hout, Bergin et al. 2016).

Na figura 15, encontram-se dados sobre a gestão do abuso e dependência de opioides a nível mundial, disponíveis no site da Organização Mundial de Saúde (OMS).


Katzung, B., et al. (2012). Basic and Clinical Pharmacology, The McGraw-Hill Companies, Inc.

Van Hout, M. C., et al. (2014). "A Scoping Review of Codeine Use, Misuse and Dependence." CODEMISUSED Project, European Commission, 7th Framework, EU.

Hellums, J. S. and Ross, E. L. (2017). "Short-Acting Opioids." 149-151.

Dumas, E. O. and Pollack G. M. (2008). "Opioid Tolerance Development: A Pharmacokinetic/Pharmacodynamic Perspective." The AAPS Journal 10(4).

Paineurope (2015). WHO analgesic ladder. Acedido a 19/05/2017. Disponível em: https://www.paineurope.com/tools/who-analgesic-ladder.

Foley, M., et al. (2016). "Medical professionals' perspectives on prescribed and over-the-counter medicines containing codeine: a cross-sectional study." BMJ Open 6(7).

Van Hout, M. C., et al. (2016). "Best Practices and Innovations for Managing Codeine Misuse and Dependence." Journal of Pharmacy and Pharmaceutical Sciences 19(3): 367-381.

Organização Mundial de Saúde (2014). Information sheet on opioid overdoseAcedido a 19/05/2017. Disponível em: https://www.who.int/substance_abuse/information-sheet/en/.

2017 CODEÍNA - FFUP - Toxicologia Mecanística - Ana Sofia Sousa | Diana Silva | Jéssica Ribeiro
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